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"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, de modo como falo, é um dom. Não entender, mas como um simples estado de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." (Clarice Lispetor)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Aonde você vai...?

 Uma vez, na sala de aula, a fim de acompanhar meu amigo, perguntei-lhe, quando o vi sair:
                 Onde você vai?”
                Fiquei surpreso quando a professora me interrompeu:
                “Ele não vai a lugar nenhum.”
                A princípio pensei que fosse uma bronca ao meu amigo, mas logo em seguida ela pediu que eu refizesse a pergunta a ele e percebi que o errado ali poderia ser eu.
                “Perguntei onde ele ia, professora.”
                Ela ficou mais atônita ao ouvir o seu aluno “assassinar” o português novamente. Não me dei conta ao repetir o erro.
                Ao perceber a minha dificuldade em compreender o equívoco, ela lembrou-me da vez em que, em uma das minhas redações, eu havia escrito em um trecho “... queria estar aonde eles estavam...” e então comecei a me dar conta do que havia dito e do que havia escrito.
                 Você deve estar se perguntando: Onde está o erro? Ou: Aonde está o erro?

                Se você se fez a primeira pergunta, parabéns! Senão, muita calma. O erro localiza-se no emprego do onde e aonde. Devemos atentar-nos ao uso adequado desses indicadores de lugar. Ambos são advérbios e podem ser classificados como relativos ou interrogativos.
                Onde deve ser usado quando expressarmos a ideia de estabilidade e permanência, indicando lugar físico: Esta é a casa onde moro. Ou: Onde você estava, mesmo?
                 Aonde também indica destino, mas o uso da preposição “a” (a + onde = aonde) indica deslocamento e expressa movimento e destino: Aonde vamos? Ou: Irei aonde você for.                Enquanto o onde equivale a “em que lugar” o aonde equivale a “para que lugar”. Como pronome relativo onde pode retomar o lugar já citado anteriormente, sem excluir a ideia de permanência: Esta é a terra onde moro. (O onde refere-se à terra). O mesmo ocorre com o aonde: Já fui ao clube aonde você irá amanhã.
                 Depois de toda essa “confusão” de palavras eu aprendi uma coisa:
                Esteja eu onde estiver, vou pensar melhor antes de perguntar para saber aonde vou.

Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.

domingo, 29 de maio de 2011

Quanta coisa para eu aprender!


                 Você está na escola assistindo à aula de Português e o(a) professor(a) corrigindo a lição de casa na lousa.
 De repente, ele(a) ergue o dedo na sua direção e você fica em dúvida se está mesmo apontando para você ou para os colegas que estão a seu lado. Daí você pergunta:
- É para mim ir à lousa, professor(a)?
Esperemos que você tenha feito a lição e se saído bem na resposta. Mas ao falar cometeu um deslize muito comum: quem não se confunde na hora de empregar o “eu” ou o “mim”?
A regra não é difícil. Quando a palavra depois do pronome for um verbo no infinitivo (ou seja, o nome do próprio verbo) usa-se o eu. Exemplo: Ela trouxe o livro para eu ler.
 Pense da seguinte forma: quem executa a ação na frase? Temos aí o sujeito: eu.  Nesse caso usamos os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles e elas).
Já pensou na seguinte (e horrenda) possibilidade: Ela trouxe o livro para mim ler? Seria a mesma coisa dizer que Mim vai ler o livro que ela trouxe. Nada mais é do que a famosa versão da selva (Mim Tarzan; você, Jane). Fica estranho, não?
 O mim usa-se quando vem antecedido por uma preposição, mas sem estar precedido pelo verbo no infinitivo: Não vá sem mim!
O mim é um pronome oblíquo tônico (como ti, si, etc.) e funciona apenas como complemento na oração. Daí a justificativa para a seguinte oração: Para mim, ler na aula de Português é muito divertido.
 Nesse caso temos um verbo no infinitivo, mas o mim não é o sujeito. Ele não executa a ação e funciona apenas como complemento na frase, além de vir separado por vírgula.
                Agora que já conhece as regras pode perguntar de forma correta:
- Será que o(a) professor(a) falou para eu ir à lousa ou ele(a) apenas “apontou” para mim?


Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.

(Este texto foi publicado na Coluna "Perca o medo de português" do Jornal Mais Notícias em março de 2011)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quem vive de passado é museu

Esta coluna é apresentada mensalmente no Caderno Educa Mais, no Jornal Mais Notícias, de Ribeirão Pires.

Quem vive de passado é museu. Essa é uma frase muito usada hoje em dia, mas daí vem a pergunta... Você sabe usar corretamente as palavras que indicam tempo, ou seja, consegue indicar as formas adequadas relativas ao passado e ao futuro?

Por exemplo, quando um noivo (ou noiva) escrever, numa daquelas cartinhas (ou e-mails) de amor perguntando “Benzinho, quando vamos nos casar?”, ele (ou ela) jamais deverá responder “Ah, amorzinho, daqui alguns meses...”.

Porque ele (ou ela) poderá fugir antes mesmo de subir ao altar...

Por que será que ele (ou ela) poderá fugir? Será por causa da resposta dada? Que, para ele (ou ela), alguns meses podem significar anos de uma longa, angustiante e penosa espera? Ou será pelo grave erro de português cometido? Tudo bem, pode acontecer, né? 

Então, melhor não correr riscos...

Assim como devemos usar os verbos adequados para indicar as nossas ações, devemos adequar algumas outras coisinhas a elas. Estamos falando do e do A. Dentre seus diferentes e vários papéis dentro do texto eles dividem uma semelhança: ambos podem indicar tempo.

Então, quando um noivo (ou noiva) indagar sobre matrimônio, num texto escrito, o respectivo cônjuge deverá responder da seguinte forma: “Querido(a), acho melhor esperarmos mais um tempo e só conversarmos sobre casamento daqui a alguns anos.”

O noivo (ou noiva) ficará feliz (?), menos preocupado(a) (?) e a língua portuguesa agradecerá.

É que nesse caso, quando queremos indicar algo que ainda vai acontecer (tempo futuro), usamos o “a”. Exemplo: “Com certeza, a Alessandra se casará daqui a alguns anos...”.

Mas, quando houver referência àquele namorado (ou namorada) desleixado(a), ele (ou ela) deverá escrever sem medo: “Aquele (ou aquela) sem-vergonha não me telefona quatro dias”.

O , quando usado para indicar tempo, pode ser substituído por faz, pois também indica tempo passado. Exemplo: “Alessandra é graduada em Letras dois anos.” (Alessandra é graduada em Letras faz dois anos).

Mas muita atenção com a redundância. Nunca diga ou escreva “ dois anos atrás concluí minha graduação”. Se o já indica passado, usar o atrás é exagero, redundante e desnecessário.

Vale sempre lembrar que o A é usado para indicar tempo futuro, algo que está por vir e o indica passado, algo que já ocorreu ou um período de tempo transcorrido.

Devemos tomar cuidado e não ficar com a dúvida:

Será que daqui a algum tempo eu aprendo o que deveria ter aprendido anos...?


Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.