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"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, de modo como falo, é um dom. Não entender, mas como um simples estado de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." (Clarice Lispetor)

domingo, 29 de maio de 2011

Quanta coisa para eu aprender!


                 Você está na escola assistindo à aula de Português e o(a) professor(a) corrigindo a lição de casa na lousa.
 De repente, ele(a) ergue o dedo na sua direção e você fica em dúvida se está mesmo apontando para você ou para os colegas que estão a seu lado. Daí você pergunta:
- É para mim ir à lousa, professor(a)?
Esperemos que você tenha feito a lição e se saído bem na resposta. Mas ao falar cometeu um deslize muito comum: quem não se confunde na hora de empregar o “eu” ou o “mim”?
A regra não é difícil. Quando a palavra depois do pronome for um verbo no infinitivo (ou seja, o nome do próprio verbo) usa-se o eu. Exemplo: Ela trouxe o livro para eu ler.
 Pense da seguinte forma: quem executa a ação na frase? Temos aí o sujeito: eu.  Nesse caso usamos os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles e elas).
Já pensou na seguinte (e horrenda) possibilidade: Ela trouxe o livro para mim ler? Seria a mesma coisa dizer que Mim vai ler o livro que ela trouxe. Nada mais é do que a famosa versão da selva (Mim Tarzan; você, Jane). Fica estranho, não?
 O mim usa-se quando vem antecedido por uma preposição, mas sem estar precedido pelo verbo no infinitivo: Não vá sem mim!
O mim é um pronome oblíquo tônico (como ti, si, etc.) e funciona apenas como complemento na oração. Daí a justificativa para a seguinte oração: Para mim, ler na aula de Português é muito divertido.
 Nesse caso temos um verbo no infinitivo, mas o mim não é o sujeito. Ele não executa a ação e funciona apenas como complemento na frase, além de vir separado por vírgula.
                Agora que já conhece as regras pode perguntar de forma correta:
- Será que o(a) professor(a) falou para eu ir à lousa ou ele(a) apenas “apontou” para mim?


Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.

(Este texto foi publicado na Coluna "Perca o medo de português" do Jornal Mais Notícias em março de 2011)

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