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"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, de modo como falo, é um dom. Não entender, mas como um simples estado de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." (Clarice Lispetor)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quem vive de passado é museu

Esta coluna é apresentada mensalmente no Caderno Educa Mais, no Jornal Mais Notícias, de Ribeirão Pires.

Quem vive de passado é museu. Essa é uma frase muito usada hoje em dia, mas daí vem a pergunta... Você sabe usar corretamente as palavras que indicam tempo, ou seja, consegue indicar as formas adequadas relativas ao passado e ao futuro?

Por exemplo, quando um noivo (ou noiva) escrever, numa daquelas cartinhas (ou e-mails) de amor perguntando “Benzinho, quando vamos nos casar?”, ele (ou ela) jamais deverá responder “Ah, amorzinho, daqui alguns meses...”.

Porque ele (ou ela) poderá fugir antes mesmo de subir ao altar...

Por que será que ele (ou ela) poderá fugir? Será por causa da resposta dada? Que, para ele (ou ela), alguns meses podem significar anos de uma longa, angustiante e penosa espera? Ou será pelo grave erro de português cometido? Tudo bem, pode acontecer, né? 

Então, melhor não correr riscos...

Assim como devemos usar os verbos adequados para indicar as nossas ações, devemos adequar algumas outras coisinhas a elas. Estamos falando do e do A. Dentre seus diferentes e vários papéis dentro do texto eles dividem uma semelhança: ambos podem indicar tempo.

Então, quando um noivo (ou noiva) indagar sobre matrimônio, num texto escrito, o respectivo cônjuge deverá responder da seguinte forma: “Querido(a), acho melhor esperarmos mais um tempo e só conversarmos sobre casamento daqui a alguns anos.”

O noivo (ou noiva) ficará feliz (?), menos preocupado(a) (?) e a língua portuguesa agradecerá.

É que nesse caso, quando queremos indicar algo que ainda vai acontecer (tempo futuro), usamos o “a”. Exemplo: “Com certeza, a Alessandra se casará daqui a alguns anos...”.

Mas, quando houver referência àquele namorado (ou namorada) desleixado(a), ele (ou ela) deverá escrever sem medo: “Aquele (ou aquela) sem-vergonha não me telefona quatro dias”.

O , quando usado para indicar tempo, pode ser substituído por faz, pois também indica tempo passado. Exemplo: “Alessandra é graduada em Letras dois anos.” (Alessandra é graduada em Letras faz dois anos).

Mas muita atenção com a redundância. Nunca diga ou escreva “ dois anos atrás concluí minha graduação”. Se o já indica passado, usar o atrás é exagero, redundante e desnecessário.

Vale sempre lembrar que o A é usado para indicar tempo futuro, algo que está por vir e o indica passado, algo que já ocorreu ou um período de tempo transcorrido.

Devemos tomar cuidado e não ficar com a dúvida:

Será que daqui a algum tempo eu aprendo o que deveria ter aprendido anos...?


Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.

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