Seja bem-vindo

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, de modo como falo, é um dom. Não entender, mas como um simples estado de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." (Clarice Lispetor)

sábado, 14 de julho de 2012

Aprendizado




... Aprendi que quando alguém fala mal de você simplesmente está demonstrando que não merece sua atenção, muito menos sua amizade. Ninguém tem obrigação de concordar com o outro, mas respeitar suas escolhas é aceitar o outro como ele é. Nós nos preocupamos muito no que o outro deve ou não deixar de fazer quando, na realidade, deveria se importar com o que o outro traz de bom para a gente. E quando nada de interessante acrescenta o melhor caminho, ao invés de fazer críticas, é seguir em frente e ignorar. Coisas ruins e pessoas com energia negativa nunca deixarão de existir, mas dessa forma terão menos influência na nossa vida.
... Aprendi que amigos não são todos aqueles que se preocupam com a gente, mas aqueles que fazem algo para te ajudar ou te deixar feliz e fazem tudo gratuitamente e não apenas para saber da sua vida. Em suma: amigos cuidam de você e não da sua vida. Amigos são amigos, distantes ou próximos. Pessoas que realmente gostam da gente podem estar a quilômetros de distância, mas com certeza estarão próximas do coração conectadas por algo que se chama amizade verdadeira. Aquelas pessoas que realmente nos querem bem nunca nos esquecerão e estarão do nosso lado não apenas nas horas boas ou ruins, mas quando nem lembrarmos delas. Amigos são assim como anjos que agem em silêncio.
... Aprendi que quando estão em dúvida se te amam é que, na verdade, você já não significa mais nada para elas, te resta aceitar a realidade, deixar o passado e seguir seu caminho. O amor é um sentimento intenso, mas muito confuso ao mesmo tempo. Passamos parte da nossa vida querendo agradar ao outro que nos esquecemos de nós mesmos. O amor próprio é essencial para amar o próximo e para superar quando o outro não nos ama. Faz parte da vida humana, amar e não ser amado, mas faz parte da vida humana, amar a todos independente da reciprocidade, basta tentar. O sentimento do amor pode não ser correspondido, mas o respeito prevalecerá.
... Aprendi que muitas pessoas fazem falta na nossa vida talvez nunca voltem e outras pessoas que partiram, mesmo que voltassem, jamais fariam a diferença. Assim como nós, pessoas que partem já cumpriram a sua missão e devem seguir seu rumo, por mais que isso nos machuque. A vida é feita de perdas e ganhos: se perdemos algo é para dar espaço para algo que iremos/podemos ganhar. Perder não é símbolo de fracasso, mas de coragem, principalmente se for seguido por tentativas. Na vida, nada se ganha por completo e para sempre. Estamos em constante luta. Uma amizade ou um amor, por exemplo, precisa de alimento todos os dias e lutando-se contra a rotina, a inveja, etc. é que podemos vencer a batalha diária. Por isso, o que sempre ganharemos, com certeza, (a cada dia que abrimos os olhos) é a chance de fazer tudo diferente e melhor do que antes. Pessoas sempre vão entrar e sair da nossa vida e cada uma delas deixará a sua marca. Cabe a cada um de nós escolher quais marcas deverão caminhar conosco. As boas serão as lembranças de que tudo valeu a pena e as más serão degraus para que possamos ser pessoas melhores um dia.
... Aprendi que nada é tão ruim que não possa melhorar/passar. Assim como o primeiro amor na adolescência, as dores também passam e, muitas vezes, nós mesmos temos o remédio para a cura. A dor, assim com a perda, deve fazer parte da nossa vida, pois sem ela não haveria lição. Quando ela acontece sabemos que erramos e só errando podemos aprender. Embora muitos digam aprender com os erros alheios, aprende-se somente fazendo as próprias escolhas erradas. Assim como na matemática, na vida, nem sempre a soma de algumas ações dará o resultado esperado, mas fazendo as correções necessárias diminuiremos os equívocos e multiplicaremos as chances de tudo dar certo. Na vida tudo é uma questão de escolha e tentativa. Primeiro escolhe-se o caminho e depois se prepara para trilhá-lo. Às vezes, este o levará para lugares sombrios, outras para lugar nenhum, mas o importante é se mover e tentar a todo o momento um novo caminho que nos traga esperança de algo melhor.
Como Paulo Coelho citou “quando alguém encontra seu caminho precisa ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada.”



sábado, 3 de março de 2012

Welcome... again!

"O sentido da vida é que ela acaba." (Franz Kafka)


Voltei... para um mundo novo, uma vida nova. Um novo ciclo! Let's start the game...!

Caminho da morte

      As coisas nunca estão ruins que não possam piorar. Ganhei um abraço de Judas e até dormi com o inimigo. Acreditei ser quem nunca fui: uma pessoa querida para pessoas insignificantes. Sorte ou azar? Depende do ponto de vista e aqui só há um: o falso. O ambíguo nas atitudes, porém convincente no olhar. Mente-se com palavras, mas não há nada que se faça que uma gafe e poucos minutos de conversa não denuncie.

       Na verdade, nunca foi mentira apenas uma verdade não contada e oculta por falta de coragem ou de caráter. Não digo que não sou pecadora porque é mentira. Sei dos meus erros e sei o que fiz de errado e me arrependo deles, mas admito e não fujo. Sou humana e pecadora assim como todo mundo e nem estou nesse mundo para julgar o próximo de um defeito que também tenho, mas assim como todo mundo, também tenho o direito de expressar minha indignação. 


      Atire a primeira pedra quem nunca mentiu e errou. Quem nunca mentiu para evitar um desastre (inevitável) ou não magoar o já magoado? Somos pecadores e merecemos o perdão... Mas quando reconhecemos nossos erros, não fugimos deles e tentamos melhorar, evitando repeti-los e mostrando a grandeza do ser humano: o de querer melhorar. O que jamais podemos esquecer é que ao não pensar no outro, podemos sofrer daquilo que fizemos o outro sofrer.  Fato. É questão de tempo, basta esperar.

      Às vezes, eu me questiono sobre a dor. Eu gosto de senti-la. Ela fortalece. Enquanto a sinto, fico em dúvida, instável, fraca, triste e doente... Morta. Mas ela me faz ressuscitar. Isso mesmo. A mesma dor que derruba, levanta. A mesma dor que destrói, constrói. A mesma dor que mutila, remenda. A mesma dor que mata, cria a vida.


    Quem já não ouviu a frase famosa “se for para pisar então pise até eu morrer. E se eu levantar, corra”? É mais ou menos assim. Não consigo ser um meio-termo. Ou sou quente ou sou fria, ou sou legal, ou sou chata, ou sou boazinha ou sou má, mas jamais idiota ou esperta. Não quero ser feita de boba nem quero me aproveitar dos outros. Ser o que não sou não é a minha intenção e fazer para o outro aquilo que não quero para mim também não. E se simplesmente acabo fazendo é porque sou humana como todos que pecam diariamente. Só tenha certeza de uma coisa: não dei o primeiro passo, mas talvez dê o último...

      Entretanto, nunca queira provar dos meus opostos, pois são gostos inesquecíveis. É como uma droga, que uma vez experimentada estará sempre no seu sangue e te perseguirá até o mais profundo da sua mente e mergulhará dentro das suas lembranças e nas horas em que menos imaginar. E não há cura para esse mal senão a morte...


      Morte da vida.
      Morte do amor.
      Morte do seu eu interior.

      Morte, o início.

domingo, 5 de junho de 2011

Como é difícil falar sobre isso


      Um belo dia, resolvi ir à praia com uma amiga. Era uma manhã ensolarada e tomar um banho de mar era uma ótima ideia naquele momento. Assim que chegamos, ela disse: “É difícil caminhar sobre o sol muito forte”. Fiquei assustada quando ouvi suas palavras.

      O ser humano já inventou desde carro que não faz barulho até livro eletrônico, mas ainda não há tecnologia “de ponta” que faça alguém andar em cima do sol. Não é certo falar que caminhamos em cima dele, assim como é incorreto dizer que “estamos falando sob a gramática da língua portuguesa”.
      Sobre e sob são antônimos (palavras de significação oposta), por isso temos de observar o contexto para poder usá-las. Na escrita também devemos ficar atentos, pois a grafia dessas preposições, assim como o significado, é diferente, e se não nos atentarmos às regras, utilizaremos de forma incorreta.
      Use sobre para indicar que algo está em cima de outro, pois equivale a “em cima de (a)”: Os papéis estão sobre a mesa, ou quando puder substituir por “a respeito de (a)”: Estamos falando sobre a novela.
      Quanto ao sob, representa que algo está abaixo de outro: O gato se escondeu sob o carro (até porque se ele estivesse sobre o carro não estaria escondido). Este também pode ser usado quando representar que alguém ou algum objeto está na direção de outro: O refém ficou sob a mira do assaltante.
      Mas atenção: sobre não significa em relação a. Exemplo: A empresa queria aumentar seus lucros sobre o ano passado. Use em relação a e não sobre (A empresa queria aumentar seus lucros em relação ao ano passado). Outro aspecto muito importante é que não se deve usá-lo também para denotar derrota. Exemplo: A derrota do Brasil sobre a Argentina estava evidente. Nesse caso use diante de (a): A derrota do Brasil diante da Argentina estava evidente.
      Não podemos deixar de nos atentar a outros aspectos: sobre e sob são prefixos (partículas que são acrescidas à palavra a fim de modificar o sentido) e devido à reforma ortográfica (que vigorará a partir de 2012), eles serão usados de formas diferentes, seguindo novos padrões. O novo acordo ortográfico estabeleceu novas regras para os prefixos, nas quais em alguns casos acrescenta-se o hífen e em outros o exclui (exemplos: sobsaia, sob-roda ou sobreaflingido e sobre-estadia). Neste caso, temos de verificar e pesquisar, uma vez que cada caso é específico e estamos nos adaptando a essa mudança em nossa língua. Para dirimir as dúvidas, a melhor solução é um dicionário de qualidade e de confiança para não querer andar sobre o sol, mas quem sabe sob a lua...


Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Aonde você vai...?

 Uma vez, na sala de aula, a fim de acompanhar meu amigo, perguntei-lhe, quando o vi sair:
                 Onde você vai?”
                Fiquei surpreso quando a professora me interrompeu:
                “Ele não vai a lugar nenhum.”
                A princípio pensei que fosse uma bronca ao meu amigo, mas logo em seguida ela pediu que eu refizesse a pergunta a ele e percebi que o errado ali poderia ser eu.
                “Perguntei onde ele ia, professora.”
                Ela ficou mais atônita ao ouvir o seu aluno “assassinar” o português novamente. Não me dei conta ao repetir o erro.
                Ao perceber a minha dificuldade em compreender o equívoco, ela lembrou-me da vez em que, em uma das minhas redações, eu havia escrito em um trecho “... queria estar aonde eles estavam...” e então comecei a me dar conta do que havia dito e do que havia escrito.
                 Você deve estar se perguntando: Onde está o erro? Ou: Aonde está o erro?

                Se você se fez a primeira pergunta, parabéns! Senão, muita calma. O erro localiza-se no emprego do onde e aonde. Devemos atentar-nos ao uso adequado desses indicadores de lugar. Ambos são advérbios e podem ser classificados como relativos ou interrogativos.
                Onde deve ser usado quando expressarmos a ideia de estabilidade e permanência, indicando lugar físico: Esta é a casa onde moro. Ou: Onde você estava, mesmo?
                 Aonde também indica destino, mas o uso da preposição “a” (a + onde = aonde) indica deslocamento e expressa movimento e destino: Aonde vamos? Ou: Irei aonde você for.                Enquanto o onde equivale a “em que lugar” o aonde equivale a “para que lugar”. Como pronome relativo onde pode retomar o lugar já citado anteriormente, sem excluir a ideia de permanência: Esta é a terra onde moro. (O onde refere-se à terra). O mesmo ocorre com o aonde: Já fui ao clube aonde você irá amanhã.
                 Depois de toda essa “confusão” de palavras eu aprendi uma coisa:
                Esteja eu onde estiver, vou pensar melhor antes de perguntar para saber aonde vou.

Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.

domingo, 29 de maio de 2011

Quanta coisa para eu aprender!


                 Você está na escola assistindo à aula de Português e o(a) professor(a) corrigindo a lição de casa na lousa.
 De repente, ele(a) ergue o dedo na sua direção e você fica em dúvida se está mesmo apontando para você ou para os colegas que estão a seu lado. Daí você pergunta:
- É para mim ir à lousa, professor(a)?
Esperemos que você tenha feito a lição e se saído bem na resposta. Mas ao falar cometeu um deslize muito comum: quem não se confunde na hora de empregar o “eu” ou o “mim”?
A regra não é difícil. Quando a palavra depois do pronome for um verbo no infinitivo (ou seja, o nome do próprio verbo) usa-se o eu. Exemplo: Ela trouxe o livro para eu ler.
 Pense da seguinte forma: quem executa a ação na frase? Temos aí o sujeito: eu.  Nesse caso usamos os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles e elas).
Já pensou na seguinte (e horrenda) possibilidade: Ela trouxe o livro para mim ler? Seria a mesma coisa dizer que Mim vai ler o livro que ela trouxe. Nada mais é do que a famosa versão da selva (Mim Tarzan; você, Jane). Fica estranho, não?
 O mim usa-se quando vem antecedido por uma preposição, mas sem estar precedido pelo verbo no infinitivo: Não vá sem mim!
O mim é um pronome oblíquo tônico (como ti, si, etc.) e funciona apenas como complemento na oração. Daí a justificativa para a seguinte oração: Para mim, ler na aula de Português é muito divertido.
 Nesse caso temos um verbo no infinitivo, mas o mim não é o sujeito. Ele não executa a ação e funciona apenas como complemento na frase, além de vir separado por vírgula.
                Agora que já conhece as regras pode perguntar de forma correta:
- Será que o(a) professor(a) falou para eu ir à lousa ou ele(a) apenas “apontou” para mim?


Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.

(Este texto foi publicado na Coluna "Perca o medo de português" do Jornal Mais Notícias em março de 2011)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quem vive de passado é museu

Esta coluna é apresentada mensalmente no Caderno Educa Mais, no Jornal Mais Notícias, de Ribeirão Pires.

Quem vive de passado é museu. Essa é uma frase muito usada hoje em dia, mas daí vem a pergunta... Você sabe usar corretamente as palavras que indicam tempo, ou seja, consegue indicar as formas adequadas relativas ao passado e ao futuro?

Por exemplo, quando um noivo (ou noiva) escrever, numa daquelas cartinhas (ou e-mails) de amor perguntando “Benzinho, quando vamos nos casar?”, ele (ou ela) jamais deverá responder “Ah, amorzinho, daqui alguns meses...”.

Porque ele (ou ela) poderá fugir antes mesmo de subir ao altar...

Por que será que ele (ou ela) poderá fugir? Será por causa da resposta dada? Que, para ele (ou ela), alguns meses podem significar anos de uma longa, angustiante e penosa espera? Ou será pelo grave erro de português cometido? Tudo bem, pode acontecer, né? 

Então, melhor não correr riscos...

Assim como devemos usar os verbos adequados para indicar as nossas ações, devemos adequar algumas outras coisinhas a elas. Estamos falando do e do A. Dentre seus diferentes e vários papéis dentro do texto eles dividem uma semelhança: ambos podem indicar tempo.

Então, quando um noivo (ou noiva) indagar sobre matrimônio, num texto escrito, o respectivo cônjuge deverá responder da seguinte forma: “Querido(a), acho melhor esperarmos mais um tempo e só conversarmos sobre casamento daqui a alguns anos.”

O noivo (ou noiva) ficará feliz (?), menos preocupado(a) (?) e a língua portuguesa agradecerá.

É que nesse caso, quando queremos indicar algo que ainda vai acontecer (tempo futuro), usamos o “a”. Exemplo: “Com certeza, a Alessandra se casará daqui a alguns anos...”.

Mas, quando houver referência àquele namorado (ou namorada) desleixado(a), ele (ou ela) deverá escrever sem medo: “Aquele (ou aquela) sem-vergonha não me telefona quatro dias”.

O , quando usado para indicar tempo, pode ser substituído por faz, pois também indica tempo passado. Exemplo: “Alessandra é graduada em Letras dois anos.” (Alessandra é graduada em Letras faz dois anos).

Mas muita atenção com a redundância. Nunca diga ou escreva “ dois anos atrás concluí minha graduação”. Se o já indica passado, usar o atrás é exagero, redundante e desnecessário.

Vale sempre lembrar que o A é usado para indicar tempo futuro, algo que está por vir e o indica passado, algo que já ocorreu ou um período de tempo transcorrido.

Devemos tomar cuidado e não ficar com a dúvida:

Será que daqui a algum tempo eu aprendo o que deveria ter aprendido anos...?


Sérgio Simka é professor nas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Alessandra Simões dos Santos, formada em Letras pela FIRP, é professora e revisora de textos.